domingo, 13 de julho de 2008

A onda em Natal é ser concurseiro.

Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, os concursos públicos vêm ganhando atenção de jovens que estão entrando no mercado e até mesmo de profissionais que acumulam anos de experiências e decepções. Empresas que realizam concursos, cursinhos preparatórios e materiais didádicos formam uma nova indústria para atender à demanda daquela que já é considerada a nova profissão, a de concurseiro.O medo de concluir o curso superior e ficar desempregado, a expectativa por ter um emprego garantido, salários altos em curto prazo e estabilidade financeira são as vantagens do serviço público que mais atraem os concurseiros.Por isso, segundo o professor Mourão, de língua portuguesa, muitos jovens estão dando prioridade a estudar para concursos públicos antes de pensarem em fazer um curso superior, ou mesmo trocando bons empregos no setor privado. ‘‘Já vi casos de alunos que abandonaram um emprego de R$ 5.000 para assumirem um de R$ 3.000 no setor público, mas que garantia estabilidade’’.O problema é que a concorrência também tem aumentado. De acordo com o coordenador pedagógico de um cursinho preparatório em Natal, Aldo Rocha Filho, a média de candidatos por vaga pode variar de 100 a 1.000. Por isso, os professores alertam que a dedicação precisa ser a maior possível. ‘‘Quando o aluno cria esse projeto, vai precisar ter uma dedicação extra e aproveitar melhor o tempo do dia’’, explica Aldo.Para conciliar trabalho e estudos, o coordenador pedagógico deixa uma sugestão. ‘‘Eu sempre dou orientação aos alunos para que eles entendam o corpo deles. Se for diurno, que acorde mais cedo e estude antes de ir ao trabalho. Se for noturno, que estude à noite’’. Ele ainda recomenda que, além das aulas, os concurseiros estudem de quatro a seis horas por dia. ‘‘Só o curso não vai aprovar ninguém’’, ressaltou.Respirar esse mundo, é o que recomenda o professor Mourão. ‘‘Para o concurso, você tem que se dedicar inteiramente a isso. A gente diz que é uma opção de vida, porque você vai ter que abdicar de muitas regalias’’, frisou.RENÚNCIASDentre as renúncias que o professor Mourão recomenda, estão abandonar excessos nos finais de semana e até mesmo gastos desnecessários, para poder investir em material didático. Para o coordenador Aldo Rocha, o investimento financeiro que os concurseiros precisam fazer é alto para os padrões de Natal. ‘‘O candidato tem que pagar cursos preparatórios, livros e apostilas’’, destacou.Mesmo assim, aqueles que não têm condições de pagar cursos ou apostilas, têm uma alternativa. Na Internet, os candidatos podem encontrar os códigos exigidos nas provas. Além disso, as bancas que realizam os concursos costumam divulgar as provas que já foram aplicadas. ‘‘Hoje a internet tornou o acesso ao conhecimento democrático’’, lembra o coordenador pedagógico Aldo Rocha Fiho.Os concurseiros mais assíduos buscam aproveitar o máximo possível de seu tempo. Costumam dizer que com horas a mais de estudo, podem andar mais rápido na fila. Mas professor Mourão lembra Willian Douglas, autor do livro ‘‘Como passar em concursos’’ e adverte sobre os exageros: ‘‘É de suma importância nunca deixar família e saúde para depois’’. Aliás, o professor recomenda o livro para aqueles que querem virar concurseiros.ESPERANÇAA esperança de passar nos próximos concursos e ter um retorno financeiro para compensar o investimento motiva os candidatos a continuarem os estudos, mesmo quando não passam nas primeiras provas. Segundo o coordenador pedagógico Aldo Rocha Filho, o tempo para o retorno financeiro não é preciso. ‘‘Varia muito de candidato para candidato, mas a média é de seis meses a dois anos’’.Além disso, quando os candidatos se dedicam a ser concurseiros, não estudam apenas para um concurso. Muitos estudos para determinado concurso são aproveitos em outros, porque há diversos conteúdos em comum. ‘‘Geralmente os concurseiros ficam de olho nos editais e estudam até passar, porque existe uma dinâmica muito forte nessa área’’, relata Aldo Rocha Filho.Quando vem o desânimo, o professor Mourão recomenda: ‘‘O aluno deve se dar essa oportunidade de se sentir desmotivado, de chutar o pau da barraca. Mas não deve perder tempo para voltar a estudar’’.Primeira colocação no primeiro concursoGabriella Pantoja, 23 anos, é o exemplo de que passar em concurso público depende de cada um. Com apenas três meses de estudo, ela passou em primeiro lugar no primeiro concurso que fez, para técnico administrativo do Tribunal Regional Federal. Gabriella descobriu que o medo de concorrer com pessoas que estão estudando há mais tempo nem sempre se justifica.Formada em Ciências da Computação na UFRN, Gabriela se desiludiu com o curso. ‘‘No meio do curso, vi que não era bem isso que eu queria. Eu não gosto de programação. O que gosto mesmo é de matemática’’, conta. Por isso ela se dedicou com mais afinco ao lado acadêmico da profissão, escrevendo artigos e participando de congressos.Perto de se formar, ela planejava fazer um mestrado na área. Mas estava tão envolvida com a monografia no final do ano passado que perdeu o período de inscrição para a seleção de mestrado. ‘‘Quando me formei, fiquei perdida. E agora, o que eu iria fazer?’’, lembra-se.Durante a viagem de verão, ela não conseguia pensar em outra coisa. ‘‘Eu diza: ai meu Deus, o que vou fazer quando chegar em Natal?’’. Foi quando um amigo e colega de faculdade deu a dica dos concursos. ‘‘Ele falava que era maravilhoso, então eu falei: ah, vou ver como é’’. E se matriculou em um cursinho, porque nunca tinha visto absolutamente nada de direito.A dedicação foi séria, mas ainda sobrava tempo até para o cochilo depois do almoço e para a academia à noite. ‘‘Eu não faltei nenhuma aula. Tinha três horas de cursinho, chegava em casa e dormia um pouco depois do almoço para me renovar, e estudava à tarde’’.Todos os dias ela estudava o conteúdo que tinha visto na aula, e mais um pouco. Para praticar, Gabriella costuma fazer muitas questões de provas que encontra na internet. O fim de semana não era mais o mesmo. Sábado também era dia de aula, e domingo, era hora de fazer uma revisão e descansar. Nada de saídas muito cansativas.Com três meses em ritmo de concurseira, chegou o dia da primeira prova. ‘‘Cheguei cedo, levei água, comida, remédio para dor de cabeça e fiz a prova com atenção’’. Tanta atenção, que Gabriella acertou todas as questões. No dia seguinte, foi publicado o gabarito. ‘‘Vi um trecho que dizia ‘habilitação: 1’, mas nem sabia que isso era minha classificação. Liguei para um amigo, dei meu número de inscrição para ele ver e ele confirmou. Eu tinha passado em primeiro lugar’’, contou.Com a aprovação, ela viu que não existe regra para passar em concurso. ‘‘As pessoas colocam muito medo na gente. Fazem um bicho de sete cabeças. O segredo é não levar tão a sério. O principal é a força de vontade, a disciplina e acreditar que você pode. Você vai na sua’’.Mesmo com a nova conquista, Gabriella tem ambições maiores. Ela quer passar em algum concurso para nível superior, e para isso, já está se preparando para a prova do Tribunal Regional do Trabalho de Alagoas.Sacrifícios são recompensadosEm alguns casos, o investimento financeiro pode ser mais que comprar livros e apostilas. Alguns candidatos chegam a abandonar o emprego para terem mais tempo disponível para os estudos. Foi o que fez o ex-representante comercial Gilberleide Lima de Medeiros, de 32 anos, em agosto de 2007.Casado e com um filho, o concurseiro conta que precisou contar com a ajuda de sua mulher para sustentar a família enquanto ele se dedicava aos estudos. A expectativa de passar em um concurso e melhorar a renda familiar foi a justificativa. ‘‘Vi a oportunidade de mudar a minha vida’’, conta.Além do emprego, Gilberleide também trancou a faculdade de Direito, onde cursava o quarto período. A única experiência anterior com concursos havia sido em 1999, para a Polícia Civil. Na época ele passou, mas preferiu o emprego de representante comercial, que pagava quatro vezes mais.As coisas mudaram e no ano passado, ele decidiu voltar ao mundo dos concursos. ‘‘A certeza que tinha era que, se tinha uma boa base, por que não conseguiria passar? Eu tinha que tentar, se não, ia ficar com essa decepção para o resto da vida’’.A mudança foi drástica. Gilberleide começou a assistir três horas de aula por dia, e além disso, estudar mais cinco ou seis horas. Parou de beber e mudou a rotina dos finais de semana e feriados. ‘‘Nem carnatal existia mais para mim. No fim de semana, era só passeios leves com a família’’.No começo não foi fácil, contou. ‘‘Mas depois a gente acostuma’’. Então, vieram os resultados. No concurso para o Tribunal Regional Federal, Gilberleide foi aprovado para o seu cargo em primeiro lugar. Assim que o concurso for homologado, ele deve ser chamado para trabalhar em Mossoró. Mas já avisou que gostou da carreira de concurseiro, e continuará estudando para o concurso da Polícia Rodoviária Federal.

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