quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

MAIS MÉDICOS PARA A SAÚDE

Em meio a boatos de que havia um “trabalho” de convencimento da Cooperativa dos Anestesistas (Coopaneste) para profissionais concursados não atenderem o chamado para assumir os cargos na rede hospitalar do Estado, a governadora Wilma de Faria autorizou a contratação imediata de 131 médicos para hospitais da Grande Natal, inclusive aumentando de dez, o número de vagas inicialmente previsto, para 31 o total de anestesistas convocados pela Secretaria Estadual de Administração e Recursos Humanos (Searh).A governadora tomou essa decisão depois de conversar, ontem à tarde, com os secretários estadual de Saúde Pública e da Administração, George Antunes e Paulo César Medeiros. Além disso, ela autorizou que o pagamento desses profissionais já seja incluído na folha salarial deste mês. Os chamados foram aprovados em concurso realizado pelo governo no segundo semestre de 2008.O secretário George Antunes disse que “não podia comprovar”, mas admitiu ter obtido informações sobre esse possível boicote da Coopanest, a qual, segundo ele, teria “misturado as coisas” ao envolver discussões sobre os serviços prestados ao governo pelos anestesistas e a greve dos médicos encerrada anteontem por determinação judicial:”Só não sei se foi proposital ou não”.Segundo o secretário, os novos médicos que estão sendo contratados pelo Estado, vão ter um salário mensal de R$ 6 mil, incluindo a gratificação de alta complexidade, que está em torno de R$ 1,1 mil e ainda 20% de insalubridade por jornada de 40 horas semanais. Antunes explicou ainda que o Estado pagava aos prestadores de serviço da Coopanest em torno de R$ 850,00 por um plantão de 12 horas. A Coopanest teve o seu contrato rescindido com o estado, assim como outras duas cooperativas, mas até outubro permanece o contrato com a cooperativa de neurocirurgiões.O presidente do Sindicado dos Médicos (Sinmed), Geraldo Ferreira, lamenta as declarações do secretário de Saúde, mas foi informado apenas - “porque não recebi ainda nenhuma denúncia” - que os ortopedistas não estavam aceitando assumir o cargo por não concordarem, por exemplo, com a escala de serviço apresentada pela direção do Hospital Walfredo Gurgel. “Mas a minha função é defender a classe médica seja qual for o sistema de contratação”, disse ele.Com a convocação de profissionais aprovados para o quadro reserva, ao invés de chamar 792, o governo está convocando 853 concursados. Para completar o quadro de 1.010 servidores, a Searh vai realizar novo concurso público para preencher as vagas para as especialidades médicas que não tiveram aprovação de candidatos.Os concursados aprovados devem se apresentar entre 8 horas e 17 horas, no Cefope. Os novos servidores contratados através de concurso público pelo Governo do Estado para atuar na (Sesap começaram a se apresentar ontem, no Centro de Formação Pessoal dos Serviços de Saúde (Cefope).Impasse prejudica população“Queria que vocês estivessem aqui quando ela toma a vacina. É uma toda dia. Grita de dor sem parar. Fica pedindo para que a gente não faça mais mal a ela.” O relato é da balconista Vera Lúcia de Oliveira e se refere ao sofrimento pelo qual sua mãe, Dulcinéia Monteiro, de 79 anos, cega e portadora do Mal de Parkinson, vem passando desde o dia 26 de dezembro, à espera de um cirurgia. Ela sofreu uma queda e quebrou o fêmur no último dia 25. Encaminhada ao Walfredo Gurgel, recebeu os primeiros atendimentos, dormiu no corredor do hospital e foi transferida no outro dia para o Itorn.Normalmente, teria sido cirurgiada em poucos dias e voltado à sua residência. Porém desde então não pôde ser operada, devido inicialmente à greve dos médicos e agora por conta do fim do contrato entre a Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) e a Cooperativa dos Anestesiologistas (Coopanest). Assim como ela estão outros 148 pacientes, que compunham até a manhã de ontem a fila de espera para cirurgias ortopédicas, segundo informação da Unidade de Gerenciamento de Vagas do Walfredo Gurgel.Em períodos normais, a fila não costuma ultrapassar os 20 nomes. Porém atualmente não para de aumentar, uma vez que essas cirurgias eletivas (não emergenciais) não são realizadas no Walfredo Gurgel. E enquanto permanece o impasse entre os médicos, que exigem a renovação dos contratos do Estado com as cooperativas, e a Sesap, que vem lutando para montar uma estrutura própria que evite a necessidade de contratação dessas cooperativas, a balconista Vera Lúcia se ajoelha diariamente para pedir aos céus que alivie o sofrimento da mãe. A filha tirou férias do emprego para acompanhar a mãe e já teme que o período de folga acabe sem que haja uma definição. “Tentamos até ver quanto seria a operação se pagássemos direto aos médicos, mas aí teríamos de pagar a todos e o valor sai por R$ 8 mil. Não temos esse dinheiro”, lamenta. A idosa já criou escaras, espécie de ferimento decorrente do longo tempo acamada, e reclama de dores constantemente. “Na hora da eleição, todos políticos lembram da gente. Agora, todos se esquecem. Peço por tudo que alguém resolva esse problema”, diz.Segundo o diretor do Itorn, Rogério Santos, não há previsão de quando casos como o de Dulcinéia Monteiro vão ser resolvidos. “Temos 12 pacientes aqui esperando por cirurgia e não há como obrigar os médicos a atender, pois eles recebiam do Estado pela cooperativa e o contrato já terminou”, explica. A direção já enviou ofícios ao poder público e às promotorias de Justiça informando do fato e pedindo uma solução. Porém não havia qualquer indicação sobre o que deve ocorrer.O Itorn realizava cerca de 200 cirurgias de ortopedia por mês, de pacientes do SUS, quantidade que se soma às feitas em outros hospitais privados conveniados ao sistema, como Memorial e Médico Cirúrgico. Para Rogério Santos, os hospitais públicos não têm condições de receber toda essa demanda de uma hora para outra. “Precisa se dar uma solução”, defendeu. A posição do diretor é de que a renovação com as cooperativas é necessária, para que não haja piora do quadro dos pacientes que aguardam as operações.“Não vejo irregularidade em um médico que já cumpriu toda sua carga horária como funcionário do Estado fazer um trabalho extra pela cooperativa”, afirmou. Ele lembra que não tem como obrigar esses profissionais a atender e, enquanto isso, somente aguardando por cirurgias de prótese total de quadril são 16 os pacientes. “São pessoas que não conseguem nem dormir de tanta dor e podem ter seus casos agravados com a demora”, conclui.Falta de médicos limita cirurgias em hospital privadoDesde o dia 1º de janeiro o Hospital do Coração é uma das unidades contratadas pela Sesap para receber parte da demanda por cirurgias ortopédicas e gerais, de emergência. A idéia é que o Walfredo Gurgel encaminhasse os pacientes que não conseguisse atender, diante do término do contrato do Estado com as cooperativas médicas. No entanto, até ontem somente oito cirurgias teriam sido realizadas no local nesse período, e todas graças ao envio de anestesiologistas das Forças Armadas. “Recebemos anestesistas do Exército e da Marinha que já permitiram a realização de seis cirurgias e mais duas estão para ocorrer hoje (ontem). Agora, se tivéssemos uma disponibilidade maior de anestesistas, certamente faríamos bem mais”, aponta o diretor Elmano Marques. Segundo ele, o Walfredo Gurgel somente envia pacientes quando o Hospital do Coração informa que conta com os anestesiologistas, o que só tem sido possível quando da presença dos médicos das Forças Armadas. Por outro lado, a unidade está recebendo normalmente os pacientes de UTI (6 no momento). Elmano Marques confirmou que não há como obrigar os anestesiologistas a participar das cirurgias, uma vez que o hospital não conta com esses profissionais em seus quadros e o serviço é prestado de forma terceirizada. “Assinamos esse contrato com a Sesap levando em conta a decretação de estado de calamidade pública e também pensando no papel social do hospital, de atender à população. Torcemos para que o impasse se resolva com máxima brevidade, para que o problema não tome proporções maiores”, enfatizou.Direção do HWG aguarda médicosUma das soluções encontradas pela Sesap para reduzir o déficit de pessoal, após o fim do contrato com as cooperativas, ainda não havia surtido efeito até a manhã de ontem. A convocação imediata de 131 médicos aprovados no último concurso, incluindo 31 anestesiologistas, é vista como uma das saídas para a crise, porém o ritmo de apresentação desses profissionais é lento. Até a manhã de ontem, somente três ortopedistas e um cirurgião-geral haviam se apresentado no Walfredo Gurgel. Apesar disso, o diretor José Renato Machado acredita que até o final desta semana já possa haver um reforço nas equipes, com a chegada de novos profissionais. Outra expectativa é quanto à vinda de médicos de outros hospitais públicos, transferidos de forma emergencial para o Walfredo Gurgel, além da contribuição que a unidade deve receber do Hospital da Polícia Militar, para onde seriam encaminhados alguns pacientes.Renato Machado afirma que o Walfredo Gurgel vem contando com uma equipe de três anestesiologistas por turno e esse número tem sido suficiente para dar conta da demanda de cirurgias de emergência, cerca de 20 por dia. Contudo, ele lembra que a procura, nesse início de ano, é normalmente baixa. “Daí a necessidade de retomar o atendimento nos hospitais privados contratados pela Sesap para receber parte da demanda de urgência, como o Hospital do Coração, Natal Hospital Center e Antônio Prudente, antes dessa procura começar aumentar.” Os dois primeiros hospitais tiveram dificuldade em realizar os procedimentos, já que desde o início de janeiro os anestesiologistas estão se negando a participar das cirurgias de pacientes do SUS nessas unidades (que não têm como obrigá-los, uma vez que o serviço é terceirizado) e se limitam a oferecer os leitos de UTI. Já o Antônio Prudente, que havia se comprometido a iniciar as cirurgias ontem, estaria aguardando profissionais de fora do Estado para realizar as operações.Por outro lado, a fila pelas cirurgias eletivas continua aumentando. “Temos de começar a fazer essas, caso contrário também podem se tornar emergenciais”, alerta Renato Machado. O hospital não sabe informar, porém, quantos estão no aguardo de cirurgias gerais (em Ortopedia são 148). Presidente do Sindicato dos Médicos, Geraldo Ferreira afirmou ontem que a entidade vem visitando as unidades de saúde para saber como estão sendo realizados os atendimentos. Ele deixou claro que a categoria vai recorrer da decisão judicial que pôs fim à greve, no último sábado, e pedir que seja aberta uma mesa de conciliação entre médicos e Governo do Estado. Prefeita decreta estado de calamidade no municípioA prefeita de Natal, Micarla de Sousa, seguiu o exemplo do governo estadual e decretou, ontem, estado de calamidade pública na área de saúde do município por 180 dias. O entendimento da prefeita é de que se o Estado, “que é o guarda-chuva maior”, tomou essa decisão, seria uma prova de que a saúde não ia bem em Natal, onde é atendida a maior parte dos pacientes da Região Metropolitana. O decreto de calamidade pública abre caminho para que a prefeitura contrate, em caráter emergencial e temporário, sem muita burocracia, os 100 médicos com os quais espera minimizar a crise de atendimento na rede pública de saúde do município, que tem um déficit de 200 médicos e, inclusive, outros profissionais nas 27 equipes do Programa Saúde da Família. A prefeita já teria comunicado essa intenção, anteontem, às promotoras de Saúde Elaine Araújo e Iara Pinheiro, de realizar a contratação temporária até a realização, este ano, de concurso público para preenchimento desses cargos. Micarla de Sousa decidiu pelo decreto de emergência depois de visitar, pela manhã, diversas unidades de saúde do município: ““Encontramos um déficit de aproximadamente 200 médicos na rede de saúde de Natal, por isso teremos que agir de forma emergencial”, disse a prefeita.

Fonte: Tribuna do Norte

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